Ah o medo! Na medida certa nos preserva a vida, nos faz calar na hora certa, nos faz baixar
a cabeça e oportunamente recuar de uma investida fadada ao fracasso. Por causa do medo
olhamos se vem carro antes de atravessar a rua.
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O medo nos dá mais tempo para pensar e produzir mais pensamentos antes de uma
escolha ou de uma ação importante. O medo nos preserva não apenas a vida, mas também
os dentes, o emprego e o status social.
Ah o medo, quão oportuno és na justa medida! Mas quem sabe ao certo sua medida?
A criança assustada que chora ao som de um repentino bater de palmas? Ou será que é
aquela que teme dar os primeiros passos e se agarra em tudo? Ou ainda, aquela que exista
tirar as rodinhas da bicicleta com medo de cair?
Será este sabedor da justa medida o adolescente que sua frio ante a “pagação” de um mico
ou será o jovem que desafia os pais arriscando perder seu amor e sua provisão? Quem de
nós sabe qual a boa medida do medo?
Ah o medo, quão poderoso és na justa medida! Mas qual dos adultos conhece seus limites?
Aquele que mente na entrevista de emprego para acessar o mercado de trabalho ou o
trabalhador que contraria sua própria vocação para garantir o pão de cada dia?
Ou ainda, aquele que abre mão de seus sonhos para poder realizar os sonhos dos outros,
de um filho rebelde, ingrato?
Quem sabe ao certo a justa medida do medo? Os pais permissivos e gratificadores
compulsivos por temerem não serem bons pais ou será os filhos inexperientes e
chantagistas que, atentos aos medos dos pais, impõem suas exigências dizendo-os
incompetentes na arte de educar?
Fora de tal medida, que é personalíssima, o medo mantém o homem refém da tentativa
impedindo-o crescer; mantém pais reféns dos filhos; mantém o trabalhador refém de um
sistema que não acredita mais e de um emprego rentável, embora medíocre e sem graça.
O medo fora da medida mantém mulheres mal tratadas refém de uma despensa bem
provida. O medo evita o esforço e a dor ao mesmo tempo em que inibe a ação bem
sucedida, coroando de glória a inércia que alenta o conforto e a comodidade do “tá tudo
bem!”.
Excêntrica à justa medida o medo mantém pessoas com medo do trovão privando-as do
espetacular balé dos reluzentes raios. O medo excessivo solda eternamente as rodinhas na
bicicleta privando a criança experimentar a sensação de independência e liberdade. O medo
do novo condena seu portador apenas ao que é trivial.
Muitos dos medos que as pessoas vivem foram implantados por idéias ou acontecimentos
do passado que as fizeram sofrer e pensar que as coisas não darão certo nunca mais.
Elas não querem sofrer de novo e por isso desistem de tentar realizar seus objetivos e
encalçar seus sonhos.
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Essas pessoas escolhem abrir mão de sua visão de vida temendo enfrentar as
adversidades. Temem serem traídas novamente. Temem ficar desempregadas. Temem a
ruptura, a mudança, o novo, o imprevisível.
Porém, as adversidades, os erros, as traições, as perseguições, a vergonha também
fortalecem e deixam as pessoas mais preparadas para suas próximas tentativas.
Os objetivos pessoais e a visão de vida que uma pessoa nutre em sua alma sempre terão
de ser maiores que as adversidades que ela enfrenta.
Nada pode desviar uma pessoa determinada do caminho que acredita levá-la à realização
de suas aspirações. Por isso ela precisa vencer o seu medo ou pelo menos colocá-lo na
justa medida.
As pessoas bem sucedidas são aquelas que rompem com suas experiências negativas do
passado, superam seus medos e partem determinadas a alcançarem seus sonhos.
Elas buscam os elementos que podem regenerar suas forças e nutrir sua fé, dando-lhes
força de vontade e coragem suficiente para tentarem não mais uma vez, mas até
conseguirem o que querem.
Quem decide romper com o medo que eventualmente lhe paralisa sente instantaneamente
uma força latente aflorar em forma de esperança, alegria e vontade de conquistar ainda
mais coisas.
Humanamente falando, nada nem ninguém, seja o que for, seja quem for, pode impedir a
realização de um sonho a não ser o próprio medo fora da justa medida!
Só a pessoa ousada, destemida, pode amar sem temer ser traída; ser generosa sem temer
ser roubada; dizer não sem temer ser rejeitada; impor limites sem temer ser limitada;
arriscar fazer as coisas sem temer ser mal sucedida; declarar sua opinião sem temer ser
indesejada; confrontar chefes ou colegas de trabalho sem temer perder o cargo ou até
mesmo o emprego; viver as adversidades sem temer a morte.
A despeito de minha profissão de fé, eu costumo afirmar que Deus é a minha força, a minha
luz e o meu consolo. A quem temerá a não ser Aquele que pode me privar da vida eterna e
dos bens espirituais que estão bem acima das coisas materiais ou sentimentais?
Porque andar ansioso, preocupado apenas em ser bom pai, bom profissional, bom cidadão,
com medo de não ser amado, aceito ou com medo de não ter onde trabalhar, o que comer
ou o que vestir quando se pode romper com esses medos primários e buscar, além dessas
coisas, também aquelas que realmente correspondem às mais nobres aspirações
existenciais do ser humano?
Quão inconveniente é o medo que fora de suas medidas paralisa, trava, freia e impede as
pessoas prosseguir crescendo na vida sem deixar de preservar a própria existência!
Autor:Prof. Chafic Jbeili, membro da ABMP-DF.
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