Sérgio Vaisman

 

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Memória Emocional
Tem-se como certo que
acontecimentos com forte carga afetiva são mais bem lembrados do que os
emocionalmente neutros. Todos nós possuímos memórias conscientes de
experiências emocionalmente estimulantes, memórias duradouras que são
marcantes por sua vivacidade, duração e detalhes. Estudos experimentais
demonstram amplamente que as experiências emocionalmente estimulantes
tendem a ser melhor lembradas (CHRISTIANSON, 1992). Mas, por que as
memórias explícitas (ou declarativas) das experiências emocionais duram
mais ou são mais intensas? Algumas abordagens psicológicas sugerem que
os eventos emocionais são melhor lembrados porque eles são novos, focos
da atenção e freqüentemente reverberados (CAHILL & McGAUGH, 1998).
Sabe-se então que esta habilidade da emoção na melhora da memória
declarativa é mediada pela amígdala.
Muitas evidências, tanto em animais de laboratório como em seres
humanos, mostram que a amígdala está implicada em aprendizagem de
eventos emocionalmente significativos (FURMARK et al, 1997 e HAMANN et
al, 1999). Ao que parece, essa estrutura mesial do lobo temporal, localizada
imediatamente em frente ao hipocampo (figura 1), e composta de mais de
dez sub-regiões (ou núcleos) confere significado emocional aos eventos
mnemônicos (MARKOWITSCH et al, 1994). Outras evidências indicam que os
receptores BZDs (BenzoDiazePínicos) presentes na amígdala estão
envolvidos na regulação da consolidação da memória. Um estudo recente
desenvolvido com animais indica que o núcleo basolateral da amígdala está
seletivamente envolvido em mediar a influência do flumazenil, um
antagonista do receptor BZD, no armazenamento da memória, pois a
aplicação de flumazenil neste núcleo leva a uma melhora da performance
dos animais frente à tarefa de esquiva inibitória.
Como nós avaliamos uma informação, por exemplo, se nós acoplamos
sentimentos positivos ou negativos à um estímulo, ou nossas preferências
ou aversões básicas, é um largo produto inconsciente (não - declarativo) do
aprendizado. Nós sentimos de uma maneira particular alguns tipos de
comida, um lugar, ou algum estímulo supostamente neutro como um som
por causa das experiências que nós tivemos em associação com estas
comidas, lugares ou mesmo sons particulares.
Uma nítida demonstração do aprendizado inconsciente sobre gostos e
antipatias é relatado em um estudo onde figuras de formas geométricas são
apresentadas 5 vezes cada, com um tempo muito rápido de 1 mili -segundo
de apresentação para cada forma. Assim, no teste de memória tardio, os
voluntários não conseguiram reconhecer como familiares as formas que eles
haviam visto. Entretanto, quando perguntados sobre suas preferências, os
estudantes preferiram as formas que eles haviam visto ao invés das formas
novas. Portanto, os voluntários desenvolveram julgamentos positivos sobre o material que eles tinham visto, mesmo eles não tendo consciência de que
haviam visto estes materiais previamente. Parece então que o aprendizado
envolvendo emoções pode proceder independentemente da cognição
consciente.
Embora a amígdala seja essencial para o desenvolvimento de
memórias baseadas no medo ou outras emoções, ainda não está bem
esclarecido se estas memórias são armazenadas na própria amígdala. Esta
hipótese é gerada baseando-se no fato que a amígdala não é apenas
essencial para a aquisição das memórias emocionais mas também para a expressão das emoções não aprendidas. A remoção da amígdala não apenas abole o medo aprendido mas também interfere com a capacidade básica de
expressar a emoção do medo. Animais selvagens se tornam mais mansos,
mesmo medrosos, quando esta estrutura está lesada. Ordinariamente,
macacos em cativeiro fogem dos visitantes humanos e escondem-se atrás de suas caixas. Macacos com lesões na amígdala, entretanto, irão
aproximar-se na frente das caixas quando os visitantes estiverem presentes e até permitir de serem acariciados (SQUIRE & KANDEL, 1999).
A amígdala é uma das várias estruturas cerebrais que se encontram afetadas na doença de Alzheimer. Ela é densamente inervada por fibras colinérgicas que nascem no núcleo basal de Meynert, o qual sofre um processo intenso de perda de células e redução de tamanho na doença de Alzheimer.
Um estudo realizado recentemente sobre o processamento de
estímulos visuais com conteúdo emocional em pacientes com demência do tipo Alzheimer mostrou que estes, ao contrário dos controles normais,
tiveram a memória emocional prejudicada, não conseguindo obter qualquer benefício do conteúdo emocional, positivo ou negativo, no reconhecimento de figuras emocionalmente carregadas, embora eles não tenham perdido a
capacidade de atribuir conteúdo afetivo aos estímulos. Estes resultados contrastam com o benefício de informações com conteúdo emocional observada em pacientes amnésicos de diversas etiologias que não a doença
de Alzheimer. O presumido prejuízo da amígdala dos pacientes com
demência do tipo Alzheimer pode explicar estes resultados, de acordo com CAHILL et al, (1995) que têm demonstrado que a amígdala está criticamente envolvida na melhora da memória emocional.
(fonte:Rafaela Larsen Ribeiro)


 
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