Sérgio Vaisman

 

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Excesso de trabalho, medo da violência, irritação com o trânsito.
Que viver estressado favorece uma série de encrencas no corpo inteiro, de diabete a problemas cardiovasculares, passando por depressão e até mesmo infertilidade, já está mais do que comprovado. Agora, cientistas de dois importantes centros de pesquisa paulistanos, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), descobriram mais um efeito nocivo — para não dizer devastador — das reações orgânicas ao estado de tensão permanente: uma inflamação no cérebro. Mais precisamente no hipocampo, área da massa cinzenta associada à memória, e no córtex frontal, responsável pelos nossos raciocínios mais complexos. Isso pode, com o tempo, levar os neurônios à morte.
Os danos causados pelo desaparecimento gradual dessas células nervosas vão de pequenos lapsos de memória até doenças degenerativas, como os males de Alzheimer e Parkinson. O estresse, claro, em princípio não existe para nos atacar — ao contrário, seria uma reação de defesa do organismo diante de um perigo iminente, despejando substâncias que preparam o corpo para fugir ou lutar. E nem precisa ser uma ameaça tão aterrorizante quanto a que enfrentava o homem primitivo diante de um animal selvagem. Pequenos sustos no dia-a-dia ou viver com a cabeça mergulhada em problemas podem disparar a mesma cascata hormonal. E, se isso se torna freqüente... A ameaça do estresse é tão séria que os pesquisadores alertam: tem mais chances de preservar seus neurônios quem consegue levar uma vida sem grandes sobressaltos. Até parece um contra-senso, mas o cortisol, hormônio que o corpo secreta em situações estressantes, é capaz de funcionar como um potente antiinflamatório. Em pequena quantidade, bem entendido. "Senão, o efeito é exatamente o oposto", ressalta o neurofarmacologista Cristoforo Scavone, chefe do estudo da USP. Em altas doses, esse hormônio aciona uma proteína chamada fator de transcrição kappa B no interior das células cerebrais. Essa substância, por sua vez, ativa três genes responsáveis pela produção de proteínas associadas à inflamação, que também podem leválas à morte por cansaço.
Quando as tensões acumuladas ultrapassam o limite do suportável, o corpo acusa o golpe, assim como a mente. "O medo e a ansiedade tiram de cena o pensamento lógico e podem levar o indivíduo a imaginar situações de pânico", lembra uma das
maiores especialistas brasileiras em estresse, a psicóloga Marilda Lipp, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, no interior paulista.
Infelizmente, hoje em dia nem mesmo quem mora longe das metrópoles está livre de fantasiar um assalto ao sair de um caixa eletrônico, por exemplo, desencadeando o chamado estresse por antecipação - uma forma, aliás, que acomete exclusivamente os pobres e estressados seres humanos. Os outros animais só sofrem diante de perigos reais, como fi car cara a cara com o predador. "É o preço que pagamos por sermos inteligentes", provoca a farmacologista Carolina Demarchi Munhoz, uma das autoras do estudo feito na USP, hoje atuando na Universidade Stanford, nos Estados Unidos. Se é assim, por triste ironia, é a inteligência que está destruindo os nossos neurônios. Melhor seria usá-la para tocar a vida de um jeito mais sábio — quer dizer, mais calmo.
PRESERVE A SUA MENTE
COMA DIREITO
E capriche nas porções de fr utas, legumes e de peixes, como o salmão e o arenque. Um estudo realizado por pesquisadores franceses revela que uma dieta rica em ômega-3, presente nos pescados de água fria, aumenta a produção dos neurotransmissores relacionados à disposição e ao bom humor.

FAÇA EXERCÍCIOS
Praticada apenas três vezes por semana, por no mínimo 20 minutos, a atividade física já mostra seu impacto no cérebro: diminui a ansiedade, a tensão e a fadiga.

PROCURE MEDITAR
Dedicar alguns minutos do dia à meditação ajuda o corpo a combater os efeitos do estresse. A técnica transcendental regula a reação às tensões — seus resultados são muito semelhantes aos da prática de exercícios físicos.

BEIJE, ABRACE, AME
Segundo psicólogos da Universidade de Wisconsin, dos Estados Unidos, o contato físico com pessoas nas quais confiamos atua positivamente sobre os neurônios em situação de ameaça. Os cientistas também concluíram que, quanto mais consolidada estiver uma relação amorosa, maior é o alívio da tensão emocional.

FIQUE EM CONTATO COM A NATUREZA
Sabemos, intuitivamente, que ficar em ambientes repletos de plantas, por exemplo, faz bem à saúde. A simples contemplação de uma bela paisagem traz renovação física e mental. Essa observação, aliás, é de pesquisadores da Univer sidade de Uppsala, na Suécia, que investigam o que pode apressar a recuperação do estresse.

(fontes:Anderson Moço)
 
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